A ostra portuguesa, com nome científico de Crassostrea angulata,
teve grande importância comercial até ao início da década de 70. Os
estuários dos rios Tejo e Sado eram então os maiores bancos naturais
desta espécie na Europa. Ambos os estuários produziam anualmente dezenas
de toneladas de ostra portuguesa, destinadas maioritariamente à
exportação, sobretudo para França. Só no Sado, esta actividade chegou a
envolver mais de quatro mil pessoas, sendo então uma actividade
relevante para a economia local.
O elevado valor nutritivo deste
bivalve e o seu baixo custo, devido à sua abundância, tornou-o num
alimento comum nestas regiões, existindo muitos relatos sobre as ostras
na gastronomia local de Setúbal e Lisboa, entre as quais textos do poeta
Bocage e duma “sopa à lisbonense”, feita com ostra.
No mercado
externo as ostras portuguesas ganharam também grande reputação, sendo
ainda hoje recordadas pelos franceses como “Les portugaises”.
A
partir de meados da década de 60, a ostra portuguesa começou a regredir
por variadas razões. A poluição industrial bem como a sobreexploração
deste recurso aliadas à inexistência de uma gestão racional dos recursos
vivos do Estuário, estiveram na origem da disseminação de doenças que
quase extinguiram esta espécie.
De acordo com os investigadores,
quanto se coloca qualquer ser vivo em concentrações muito elevadas
sabemos que os factores de “stress” induzido aumentam, o que facilita o
desenvolvimento e propagação de doenças. A instalação da indústria
pesada neste estuário, com a consequente poluição do meio aquático, veio
acentuar a fragilização das defesas imunitárias da espécie, o que
desequilibrou todo o ciclo de vida da ostra e originou a sua quase
extinção.
A ostra portuguesa foi dizimada no século 70 pela chamada ‘doença das brânquias', com origem na poluição da água.
Face ao desaparecimento da ostra portuguesa nos
estuários do Tejo e Sado, os produtores franceses, os maiores
importadores desse molusco, para manterem a sua capacidade produtiva,
passaram a importar a ostra do Japão, a espécie Crassostrea giga.
A maior resistência demonstrada por esta espécie bem como o seu mais
rápido crescimento fez com que os produtores se rendessem ao maior
retorno financeiro. O desenvolvimento tecnológico alcançado
entretanto permitiu a reprodução assistida de bivalves em cativeiro, o
que teve como consequência uma produção massificada da ostra Crassostrea giga.
As
maternidades de bivalves estrangeiras produzem anualmente biliões de
espécimes de ostra japonesa que exportam para toda a Europa. A ostra
“Giga” chega assim a Portugal e invade a costa algarvia, onde se
reproduziu e já predomina nos bancos naturais, ai existentes.
Nos
últimos anos, um fenómeno de mortalidade crescente atingiu a ostra
japonesa em França. A taxa de mortalidade das ostras juvenis teve, no
ano passado um valor médio próximo dos 80% sendo nalgumas produções de
100% (perda total). Face a este fenómeno, que não está ainda devidamente
explicado e compreendido, mas que se sabe ter origem na disseminação de
diversos agentes patogénicos (vírus e bactérias), os produtores
franceses começaram a procurar outros locais para manterem a sua
produção. A produção massificada de ostras em França, estará
provavelmente na origem deste fenómeno, com características
semelhantes ao que ocorreu nos anos setenta em Portugal. A solução
encontrada pelos produtores franceses está a ser a procura doutros
locais de produção, para a produção da ostra “giga” sendo alguns desses
em Portugal. A manter-se esta tendência, os estuários dos rios nacionais
e a nossa costa correm sérios riscos de ter uma “invasão” de ostra
“giga”.
Fonte: ICNB - A Ostra Portuguesa – Recuperação de um património
No entanto surgiram empresas dedicadas à aquicultura como a Sapalsado, às portas de Setúbal, numa zona de antigas salinas, que cria
ostras bebés (sementes) vindas de França (em Portugal ainda não existem
maternidades desta espécie) que entram nos tanques da empresa com um
tamanho inferior a uma unha, estando prontas a ir para a mesa do
consumidor no prazo de seis a oito meses, consoante os nutrientes que o
rio conduza às explorações e a temperatura da água.
"Quanto menos fria
melhor, porque crescem mais depressa", explica Paulo Anacleto,
administrador da empresa, mostrando a entrada do Sado nos tanques da
Sapalsado. "Aproveitamos a enchente porque é quando o caudal é maior e
está menos poluído", diz, garantindo que aqui reside boa parte do êxito
da produção de ostras, sendo necessário aguardar pela vazante para
observar os sacos metálicos onde os bivalves crescem junto ao lodo,
parte relevante neste processo porque ajuda a afastar os parasitas que
se fixam na casca.
Já adultas, as ostras são encaminhadas para uma
unidade de depuração, onde permanecem 48 horas mergulhadas em tanques
esterilizados de água salgada até serem embaladas. Estão então prontas
para seguir para o mercado. Grande parte da produção é canalizada para
França, o maior consumidor de ostras, com uma média de 200 mil
toneladas/ano.Fonte: DN - Ostras de segunda geração criadas em águas do Sado
Aqui aprendo sempre qualquer coisa :)
ResponderEliminar